A capacidade mais bela do ser humano,
que o distingue como tal, para além da inteligência, é o dom do amor. O homem
vive, porque amado por Deus, criado por Ele à sua imagem e semelhança; criado
por amor e para amar.
A plena realização do ser humano é o amor recebido e
dado. Pelo voto de castidade a FMA oferece a Deus aquilo que Ele próprio lhe
deu: “todas as forças de amor”. O dom da castidade pelo Reino dos céus potencia
a própria capacidade de amar, por isso, a FMA sabe que há sempre espaço para mais
no amor, é possível amar sempre mais, cada vez mais pessoas. Sabe que o amor
cresce quando se dá.
Quando se partilha: quanto mais amor se dá, mais abundante
será. O amor da FMA é todo para Jesus e abrange todos os irmãos e irmãs, de
modo particular os jovens. Amor que se exprime na amorevolezza salesiana,
tornando-se assim, transparência do amor preveniente de Deus e reflexo da
bondade materna de Maria. Cf C. Arts. 1,14 . Amar com um estilo bom, tornar-se bons
como o pão, ser bons como o Pai é bom.
Infelizmente,
na sociedade actual, a bondade parece estar suspensa, como se sentisse quase
vergonha por ser considerada como pessoa boa. Acontece com frequência que se
confunde a bondade com a falta de coragem para exigir os próprios direitos, ou
considera-se boa uma pessoa ingénua, incapaz de se dar conta de que o outro se
aproveita da sua bondade ou se comporta com atitudes de prepotência e
oportunismo. Corre-se, assim, o risco de esvaziar de significado a força e a
beleza da bondade. Está mais em voga ser forte, mesmo até solidário com quem é
fraco, mas não bom. O paradoxo é que, precisamente hoje, mais do que nunca, o
mundo necessita de bondade e de ternura. Tantas vezes o Papa Francisco tem dito
“não tenhais medo da ternura”. Para construir fraternidade e uma cultura de paz,
é necessário ser educados na bondade e para a bondade. “Não com pancadas, diz
Maria a Joãozinho Bosco no sonho dos 9 anos, mas com a bondade conseguirás
conquistar estes teus amigos”. A bondade é a chave dada por Maria para o bom
êxito na educação dos rapazes, insiste
D. Bosco com os seus salesianos. Uma bondade, portanto, que não
se impõe ao outro, mas que se propõe
com a força atraente da sua beleza. Bondade significa querer o verdadeiro bem
do outro, daquele que se encontra no dia-a-dia. Uma bondade que é
inteligentemente activa, porque age com respeito, discreção e oportunidade.
Fazer o bem, respeitando a liberdade do outro sem o instrumentalizar, mas
deixando livre espaço às próprias decisões e escolhas. A bondade está sempre
ligada à gratuidade do dom. Uma bondade livre, não porque se espera que o outro
nos retribua de alguma forma. Uma bondade que vê apenas o bem do outro, mesmo
quando ele não tem nenhuma necessidade particular. Isso significa ser bom em si
mesmo, não dependendo da necessidade do outro, não é a
pobreza do outro que desencadeia a bondade, porque esta exige liberdade e
intuição. Ser bom, quer com quem teve sucesso, reconhecendo perante os outros o
êxito e as suas qualidades, quer falando e pensando bem em todas as
circunstâncias sem mas, nem ses, quer ainda com aquele outro que tem
uma necessidade particular que o torna fraco e vulnerável. Então é-se bom com
discreção e sem lhe fazer sentir a sua pobreza.
Trata-se, portanto, de uma bondade inteligente, livre e humilde. A este
respeito, a própria vida de Madre Mazzarello, é testemunho de bondade, a sua
maternidade boa é reconhecida por todas, educandas e irmãs que se sentem sempre
estimuladas a “fazer com liberdade quanto exige a caridade”, conseguindo
construir “a casa do amor de Deus”. Um ambiente em que cada uma se sente bem,
porque respeitada na sua natureza e estimulada para poder crescer sempre mais
na caridade, vivendo na presença de Maria. Maria, sempre Mãe em todas as suas
palavras, como a apresenta o Evangelho, e nas suas manifestações ao longo dos
séculos, aparece como a Mãe que ajuda, aconselha, cura, reza e acompanha o
caminho de fé de toda a Igreja em cada circunstância. Somos filhas de Maria Auxiliadora,
a identidade de Auxiliadora quer dizer “dar-se conta” daquilo
que o outro precisa, e “auxiliar” educando, para que também o outro seja ‘contagiado’
pela bondade. As FMA têm como dom carismático a bondade. Uma característica
urgente para o mundo de hoje, tão ferido e fracturado por profundas divisões e
violências, onde há tantas crises, nas famílias, nas comunidades e também na
Igreja. A bondade sara e cura as feridas do nosso tempo e pode contribuir
significativamente para a construção de uma sociedade que busca o Bem comum e a
paz.
Sugestão:
Num
momento de silêncio:
Tomar consciência das manifestações da
bondade de Deus, da bondade de Maria, ao
longo do dia.
Tomar consciência da bondade das pessoas
com as quais me encontro hoje, evitar
cair na armadilha de que tudo me é devido, e, por isso, não nos
apercebemos da bondade de quem vive ao nosso lado.
Quem se sente envolvido pela bondade das
pessoas com quem vive, sente-se estimulado a ser bom também: é o convite
constante para fazer das nossas comunidades “a Casa do amor de Deus”
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